Sexta-feira Santa, por que comemos bacalhau?


Levante a mão quem sabe mesmo por que come bacalhau, desde criança, toda Sexta-feira Santa!
Aposto que a grande maioria pensou: “É porque não pode comer carne”.
Com certeza, dessa maioria, muita gente ainda se perguntou: “Se bem que… Peixe não é carne?”.
Outros tantos apareceram com mais uma dúvida: “E por que é o bacalhau? Não pode ser qualquer peixe?”.
Enfim, vou esclarecer essa história toda de bacalhau na Sexta-feira Santa para você entender e se planejar com antecedência, se for o caso! Por ser uma data religiosa, não tem como fugir das explicações bíblicas. Vá até o fim que vale a pena aprender!
A Igreja Católica tem muitas tradições, não é verdade? Na Idade Média, as coisas eram bem mais rigorosas. Os fiéis não podiam comer carnes durante toda a Quaresma (além de sextas-feiras e muitas outras datas do calendário Cristão), que é o período de 46 dias corridos que antecedem o Domingo de Páscoa (quando se comemora a Ressurreição de Cristo). Esses dias começam a ser contados a partir da Quarta-feira de Cinzas, que dispensa apresentações, né?
A Igreja já perdeu muito desse rigor mas a Sexta-feira Santa continua sendo o dia da Paixão e Morte de Cristo – quando Ele foi torturado e carregou a Cruz em que foi crucificado. Por isso, ainda obriga seus fiéis a se absterem da carne em sinal de respeito à sua morte.
A “carne” em questão é aquela de animais de sangue quente, que são aves e mamíferos (então inclui o frango, a carne de porco e de vaca). Também contam os caldos de carne, já pensou nisso? Porém, ovos, laticínios e gordura estão liberados, bem como as grávidas que precisam de uma alimentação especial por recomendação médica
O peixe por sua vez é um animal de sangue frio, por isso não está na lista de carnes proibidas!
Como você já entendeu, o prato principal no almoço da Sexta-feira da Paixão não precisa ser, necessariamente, o bacalhau! Mas, porém, entretanto, todavia, contudo, aqui no Brasil, principalmente na Região Sudeste, é ele que domina soberano a nossa mesa.
Ora, pois! Isso se deve às heranças portuguesas!
Os portugueses (também católicos, vocês sabem) adoravam um belo de um bacalhau e o consumiam muito, especialmente nos dias de abstinência da carne. A Corte veio para as bandas de cá, os comerciantes também, e o famoso “bacaláo” caiu na graça do brasileiro. Passaram-se muitos anos e ele virou uma tradição nossa também.
Tudo esclarecido?
Ainda não. Falta você saber que bacalhau não é uma espécie de peixe!
É isso mesmo, bacalhau é o resultado do precesso de salga (colocam muito sal nele) e secagem do peixe. No Brasil, encontramos 5 espécies de peixes salgados e secos (ou seja, “peixes que viraram bacalhau”): Cod Gadus Morhua, Cod Gadus Macrocephalus, Saithe, Ling e Zarbo.
Parece que estão tentando aprovar uma lei aqui que determina que apenas os peixes Cod Gadus Morhua e Cod Gadus Macrocephalus poderão receber o nome “Bacalhau”. Os demais, passarão a ser chamados de “pescado salgado e seco” (tadinhos). Achei interessante, vai ajudar o consumidor na hora da compra e eu não vou ter que ficar pedindo pelo amor de Deus que você compre um bom bacalhau, que não se deixe levar pelo preço etc. Se disser “compre Bacalhau”, você vai na mosca!
Agora sim, você está por dentro de tudo!
Então agora vou providenciar uma receita especial para sua Sexta-feira Santa!

Receita de Bacalhoada – Especial Semana Santa

Á... entendemos que qualquer peixe é bem-vindo, certo? Não precisa ser bacalhau! Porém, minha receita é com o “baca” mesmo (para os íntimos).
Esta bacalhoada é infalível e bem tradicional (na minha casa então, nem se fala!). Quem não gosta de bacalhau de jeito nenhum sempre come as batatas, que ficam macias e saborosas. Isso é coisa bem comum de se ver. Aliás, comum mesmo é ver as batatas acabando! rsrs

Ingredientes:
1 kg de Bacalhau (Alô: comprar bacalhau não pode ser um desafio na sua vida. Eu sei que é confuso porque tem várias espécies de peixe, mas pedir ajuda é fácil! Sempre procure alguém da peixaria do mercado para pedir orientação. Em uma receita deste tipo, o melhor mesmo são os lombos de bacalhau, que têm a melhor parte da carne e um perfil bem mais alto. Se estiver escrito “Porto” na embalagem, pode levar, é o que estamos procurando aqui. Outros nomes que vão te ajudar a saber que está comprando a coisa certa são: Cod Gadus Morhua e Cod Gadus Macrocephalus. Você encontra bacalhau na forma salgada e congelado dessalgado. Vou explicar aqui como dessalgar, caso compre o salgado mesmo. Porém, indico fortemente que compre o dessalgado congelado, que é um produto de qualidade normalmente superior e você vai poder cozinhar sem ter que ficar tirando o sal com água. É preferível que compre em pedaços, para você ter menos trabalho, além de desossado e sem pele. Darei mais detalhes sobre o bacalhau adiante; aqui o importante é te ajudar a comprar. Mais uma coisa: 1 kg serve 5 pessoas com muita fartura. Se não encontrar uma embalagem com 1 kg certinho, pode ser um pouco menos ou um pouco mais. Se for menos, como 800 g por exemplo, use um pouco mais de batata na receita. Também não se assuste com o preço do bacalhau, o rendimento dele é muito maior que o do peixe fresco).
Batatas descascadas e fatiadas (calcule pelo menos 1 batata por pessoa. Se tive algum mala na casa que não coma bacalhau, coloque o dobro para ele. Estou falando de batatas normais, nada de superbatatão e nem minibatatinhas. As fatias não devem ser finas nem muito grossas, isso é muito subjetivo? Acho que se disser que elas podem ter 1 dedo de largura também não ajuda, já que o seu dedo deve ser diferente do meu. Então, corte-as em lascas um pouquinho maiores que 1 cm. Não é para cozinhá-las, ok?).
1 cebola grande ou 2 pequenas, cortada em rodelas.
1 pimentão verde cortado em rodelas (tire todas as sementes).
5 tomates cortados em rodelas (Não precisa tirar as sementes e não use tomates muito maduros, que são mais vermelhos e moles. Aqui você precisa dos mais durinhos).
Azeite (o bacalhau já custou caro, não vá agora querer economizar no azeite! Use azeite de oliva extravirgem).
Azeitonas pretas, se gostar (1 vidro é mais que suficiente).
Orégano (1 pacotinho dá e sobra muito).
Papel alumínio (só pode ser ele, antes que me pergunte. Papel manteiga, papel toalha, papel higiênico, nenhum desses serve.)

Modo de Preparo:
Prepare todos os ingredientes antes de começar.
Vamos ao preparo do bacalhau, que pode ser iniciado até 3 dias antes, caso tenha comprado ele salgado.
Se seu bacalhau veio com pele, retire-a antes de tudo (com o bacalhau ainda salgado e seco; ou congelado, para quem comprou dessalgado). É bem fácil, basta levantar um lado dela e ir puxando com movimentos firmes. Não puxe para cima, puxe para trás, é mais inteligente!
Coloque o bacalhau dentro de uma vasilha funda, dentro da pia, com a torneira aberta (caindo pouca água) por 10 minutos. Deixe-o tomar esse banho relaxante com a água transbordando e, depois, jogue ela fora.
Encha a vasilha com água gelada e leve à geladeira. Não se preocupe porque a água gelada não vai deixar o cheiro empestear sua geladeira. Troque a água umas 3 vezes por dia.
Esse processo todo, além de tirar o excesso de sal, hidrata o bacalhau novamente (lembre-se que ele foi salgado e seco para virar bacalhau). Você vai ver que ele vai crescer e ficar macio.
Para o bacalhau que estamos fazendo aqui (lombo, pedaços grossos), são 2 dias trocando a água. Porém, gosto de deixá-lo 3 dias, porque fica mais macio. Se quiser o bacalhau mais salgado, deixe apenas 1 dia, também trocando a água 3 vezes.
Quem comprou dessalgado e congelado, siga as instruções de descongelamento descritas na embalagem. Uns dizem para deixar de molho 30 min na água com sal, outros dão outras explicações. É melhor ver o que a marca que você comprou recomenda para o produto dela.
Com o bacalhau agora dessalgado, corte-o em pedaços do tamanho que desejar e com cuidado para não desfiar a carne. Eu gosto de pedaços generosos, para poder colocar apenas um no prato. Se você não puder comprar muito bacalhau e tiver muita gente para comer, pode desfiá-lo em pedaços grandes ou parti-los ao meio, para ficarem menos “gordinhos” (o bacalhau, não é sua família).
Preste muita atenção nos ossos e espinhas. Elas são geralmente grandes e você consegue vê-las ou senti-las. Use as mãos! Não desmanche os pedaços para catar espinhas, elas ficam mais perto da pele e da parte mais alta do lombo. Pode usar uma pinça para puxá-las. Os ossos são super visíveis e não precisam de dica para retirá-los.
Agora que já tem o bacalhau prontinho para ser usado e os outros ingredientes devidamente preparados, vamos começar a montar a bacalhoada.
Precisamos de um recipiente grande e que possa ir ao forno. Olhe para a quantidade de bacalhau e pense que vai colocar os pedaços lado a lado, em uma única camada e que não devem ficar espremidos. Outro detalhe: sua bacalhoada será servida nesse mesmo recipiente, então dispense aqueles feios, com lascas quebradas e coisas do tipo. Olha o capricho!!
Espalhe azeite no fundo, mas sem fazer enchente!
Vamos começar com a cebola, que solta bastante água e, estando no fundo, evita que queime os outros ingredientes. Use metade da quantidade, espalhando por todo o recipiente.
Depois vem, nesta ordem:
Metade da quantidade de tomate / Metade da quantidade de pimentão / Toda a batata / Todo o bacalhau / O restante do tomate / O restante do pimentão / O restante da cebola / Orégano a gosto / Azeite, bastante / Azeitonas pretas a gosto.
Não se esqueça de distribuir muito bem os ingredientes por todo o recipiente, em todas as camadas. Isso é importantíssimo para ninguém ficar catando pedaços de pimentão no teu prato porque não tem no dele (é aquele tio mala da batata…).
Preaqueça o forno a 250°C por uns 15 minutos.
Cubra o refratário com um papel alumínio, com a parte mais brilhosa virada para fora. O papel vai formar uma espécie de forninho lá dentro, que servirá para cozinhar as batatas.
Deve demorar aproximadamente 50 minutos ou 1 hora para ficar pronto. Se precisar, levante o papel alumínio com cuidado para não se queimar, e veja com um garfo se as batatas estão bem cozidas e macias.
Sirva só com arroz, não precisa de mais nada! O caldinho da bacalhoada por cima do arroz é o que há de melhor no mundo.
Deixe o azeite na mesa.
Bon Appétit!

Fonte da Receita: Socorro na Cozinha 

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