Mãos negras, feijões idem

 As diversas origens de um dos xodós do brasileiro: a feijoada


      A fumaça dos caldeirões, a forte mistura de cores dos ingredientes, o convidativo aroma no ar, a variedade de temperos e as mãos negras que se confundem com os feijões de cor semelhante denunciam: É dia de Feijoada! Conhecida como Soul Food (alimento da alma) nos Estados Unidos, a história do maior símbolo da gastronomia brasileira está atrelada com alguns momentos históricos do País. Ironicamente, escravizados e escravizadores, colonos e colonizados dividem a atenção de estudiosos quando o assunto é a origem do prato. A mais famosa e difundida história sobre o surgimento da feijoada remete ao Brasil escravocrata, do século 18.
A tradição reza que africanos, que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar e habitavam as insalubres senzalas, se alimentavam basicamente de grãos, como milho e feijão, e das partes menos nobres dos porcos - rejeitadas pelos moradores da casa grande. Acredita-se que da mistura de tais ingredientes, acrescidos à farinha de mandioca e temperos africanos, nasceu a feijoada. Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), um dos maiores historiadores e pesquisadores do folclore brasileiro, em sua obra História da Alimentação no Brasil, afirma que a feijoada ganhou popularidade no país através de dois grupos distintos: os desbravadores bandeirantes paulistanos e os vaqueiros nordestinos.
Ainda de acordo com Cascudo, a resistência que o grão apresentava para se desenvolver em ambientes agrícolas pouco favoráveis foi de muita valia para esses grupos e sua popularização. A mais antiga possível origem do prato é relacionada aos povos indígenas que habitavam o Brasil por volta do ano 1500. De acordo com estudiosos, os aborígenes que se alimentavam basicamente de mandioca, também se alimentavam de feijões.


Yes, we have beans
      Embora existam indícios de que a feijoada seja uma invenção tipicamente brasileira, uma terceira corrente de estudos diz que habitantes de algumas regiões de Portugal produziam cozidos à base de legumes, pedaços de carne de porco e feijões brancos.
A feijoada também tem um forte elo com a história dos negros dos Estados Unidos, principalmente os habitantes da região Sul daquele país, devido às colônias de exploração. A teoria que diz que os negros teriam criado a feijoada se repete, mas o termo Soul Food só veio ganhar força na década de 60, principalmente em Estados marcados pelo racismo. Por fim, percebe-se que a mesma pluralidade de cores e sabores que fazem a feijoada, se dá em suas origens. A controvérsia de quem é o inventor do prato segue, mas entre tanta discussão, há um consenso: não há melhor feijoada do que aquela feita pelas mãos negras, mulatas ou indígenas. É ela, que há séculos, conforta o estômago e alimenta a alma de negros (e brancos) no mundo inteiro.

Texto e Fotos Roniel Felipe
Fonte: Revista Raça 

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