As diversas origens de um dos xodós do brasileiro: a feijoada
A tradição reza que africanos, que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar e habitavam as insalubres senzalas, se alimentavam basicamente de grãos, como milho e feijão, e das partes menos nobres dos porcos - rejeitadas pelos moradores da casa grande. Acredita-se que da mistura de tais ingredientes, acrescidos à farinha de mandioca e temperos africanos, nasceu a feijoada. Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), um dos maiores historiadores e pesquisadores do folclore brasileiro, em sua obra História da Alimentação no Brasil, afirma que a feijoada ganhou popularidade no país através de dois grupos distintos: os desbravadores bandeirantes paulistanos e os vaqueiros nordestinos.
Ainda de acordo com Cascudo, a resistência que o grão apresentava para se desenvolver em ambientes agrícolas pouco favoráveis foi de muita valia para esses grupos e sua popularização. A mais antiga possível origem do prato é relacionada aos povos indígenas que habitavam o Brasil por volta do ano 1500. De acordo com estudiosos, os aborígenes que se alimentavam basicamente de mandioca, também se alimentavam de feijões.
Yes, we have beans
Embora existam indícios de que a feijoada seja uma invenção tipicamente brasileira, uma terceira corrente de estudos diz que habitantes de algumas regiões de Portugal produziam cozidos à base de legumes, pedaços de carne de porco e feijões brancos.
A feijoada também tem um forte elo com a história dos negros dos Estados Unidos, principalmente os habitantes da região Sul daquele país, devido às colônias de exploração. A teoria que diz que os negros teriam criado a feijoada se repete, mas o termo Soul Food só veio ganhar força na década de 60, principalmente em Estados marcados pelo racismo. Por fim, percebe-se que a mesma pluralidade de cores e sabores que fazem a feijoada, se dá em suas origens. A controvérsia de quem é o inventor do prato segue, mas entre tanta discussão, há um consenso: não há melhor feijoada do que aquela feita pelas mãos negras, mulatas ou indígenas. É ela, que há séculos, conforta o estômago e alimenta a alma de negros (e brancos) no mundo inteiro.
Texto e Fotos Roniel Felipe
Fonte: Revista Raça
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